segunda-feira, 17 de maio de 2021

SRMA (Meningite não infeciosa) e como estive tão doente!

Pouco depois do meu último post, tinha eu uns cinco meses de vida, num belo domingo em que estive a ajudar os meus donos a "arranjar o jardim" levando troncos de um lado para o outro, à noite comecei a vomitar e a ter dores de barriga. Fiquei sem fome e só me apetecia ficar quietinho, sem me mexer e sem que me mexessem. 

Os meus donos pensavam que eu estava com uma gastroenterite ou qualquer coisa desse género porque também tinha diarreia. Deram-me galinha cozida com arroz branco, tal como os humanos fazem com as suas crianças quando ficam doentes da barriga.

Passou-se um, dois, três dias e eu estava cada vez pior. Nessa altura decidiram levar-me ao médico na Associação Zoológica de Portugal (AZP) onde fui várias vezes, sem que se encontrasse uma razão para o meu mal estar. E eu cada vez pior, até que fui internado já em desespero de causa dos meus donos que não sabiam o que fazer comigo. A minha dona acordava de noite para ver como eu estava e de cada vez me encontrava pior...

É preciso dizer que entretanto nesta fase de desespero entrei finalmente em casa como eu tanto queria, mas tão mal eu me sentia que não passava do cantinho onde me colocaram e o resto da casa não me interessava para nada. 

O que é que eu sentia? Uma enorme dor de cabeça, como se tivesse o mundo inteiro em cima de mim. Não conseguia comer nem beber, porque o meu corpo estava hirto, todo encolhido e nem conseguia baixar a cabeça para o meu prato, quanto mais engolir. Tinha febre alta e quando me apalpavam a coluna a meio das costas, sentia dor e gemia.

Decidiram todos que devia ficar internado no Hospital Veterinário da AZP para poder ser alimentado por via intravenosa e para poder ser melhor observado. Entretanto os vários diagnósticos dos médicos passavam por pancreatite, algum alimento envenenado, tudo menos o que na verdade se veio a descobrir mais tarde. E entretanto o meu sofrimento era grande!

Num desses dias de internamento na AZP um dos veterinários reparou que eu abanava involuntariamente uma das minhas patas da frente sem qualquer razão aparente e desde logo percebeu que a doença que me acometia deveria ter consequências neuromusculares e não gastrointestinais, e portanto a causa seria de natureza neurológica.

Nesse dia os meus donos receberam um telefonema que os assustou imenso: o que eu tinha era uma meningite não infeciosa (senão já teria morrido!) que deveria ser responsiva a medicamentos esteroides, em inglês conhecida como Steroid Responsive Meningitis-Arteritis (SRMA). 

Na verdade a partir daí tudo mudou: comecei a tomar medicamentos com base em cortisona e 12 horas depois já era outro cãozinho. Os meus donos visitavam-me todos os dias, e a partir dessa descoberta todos os dias viam que eu estava a melhorar. Mas podia ter morrido, foi uma sorte!

O Othelo ainda com a cabeça raspada no local onde fez a punção lombar

E porquê? Porque a origem da doença é autoimune, os sintomas são muito semelhantes a outras causas e nem todos os veterinários detetam logo que o que se passa tem origem em fatores genéticos. E pode ser fatal!

Estive dois anos em tratamento com corticosteróides, que como se sabe têm efeitos secundários muito desagradáveis para todo o ser vivo. Mas curou-me da doença.

Nesses dois anos fui "desmamado" dos corticosteróides, porque não se pode parar de um momento para o outro com esses tratamentos, as doses têm que ser gradualmente reduzidas. Mas tive de voltar ao princípio por duas vezes, porque tive recidivas. 

Duma dessas vezes fiz uma punção à medula espinal para confirmar se havia infeção, o que felizmente não se confirmou, mas esta doença não é brincadeira nenhuma...

Como os meus donos já conheciam os sintomas, levavam-me imediatamente ao médico que me dava um fortíssimo analgésico intramuscular e medicamentos para a fase seguinte, ou seja, mais cortisona. Entretanto foram-nos dizendo que talvez por volta dos meus dois anos de idade eu passasse a ter um sistema mais desenvolvido do ponto de vista imunológico, e a conseguir resistir ao ataque que as minhas próprias células faziam à minha meninge.

O que é que os meus donos fizeram? Estudaram o assunto a fundo: como não encontraram quase nada escrito em língua portuguesa, googlaram em inglês e aí sim, ficaram a saber o sério que era ter um cão com SRMA. E tomaram uma decisão, fazer tudo o que tinham estudado para me curar do meu mal.

E assim foi. Desde logo decidiram alterar a minha alimentação: em vez de ração passaram a dar-me comida crua, mas não é qualquer comida. É comida crua biologicamente adequada a animais de quatro patas, que é o meu caso. O acrónimo em inglês é BARF (Biological Adequate Raw Food). Um destes dias digo-vos em que consiste e como é deliciosa...

E foi assim que me curei da SRMA! Nunca mais tive nada e vou fazer cinco aninhos muito em breve. Se mais alguém tiver problemas desta natureza com o seu animal de estimação, não se esqueçam de falar ao médico nesta doença. É terrível, faz doer imenso, e pode levar à morte se não for tratada a tempo.

Os sintomas são: corpo tenso, pescoço hirto e doloroso, sem se conseguir mexer, febre alta, apatia e diarreia. Vão logo ao Hospital e perguntem se o vosso cão poderá estar a sofrer de uma meningite. Pode ser que não seja, mas se for um diagnóstico cedo evita muito sofrimento.

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