domingo, 27 de novembro de 2016

APARTAMENTO NOVO

Vivó, compraram-me uma casa a sério.

Não é luxo nenhum, mas para quem dormia debaixo de um tanque de cimento é uma promoção e tanto. Continuo no mesmo sítio, isto é, tiraram-me o tanque e colocaram a nova caseta, ou casota ou lá o que é no mesmo lugar. Tem um tapete de borracha no fundo e uma almofada para que eu possa dormir fofinho. E não é que durmo mesmo, toda a noite! O que os meus donos não sabiam é que um cachorrinho peludo como eu não tem frio mesmo quando dorme fora, pelo menos em cima de uma almofada como a minha e resguardado pelos muros em volta. Estou todo satisfeito e depois de dormir toda a noite acordo de manhã estremunhado e cheio de vontade para ir para a brincadeira. Também aproveito para roer um bocado do tapete e da almofada para treinar as minhas dentuças que são pequeninas mas estragam que se farta. Vamos ver no que isto dá! Às tantas zangam-se comigo, mas eu até gosto...

Ainda ando a ver para que servem os meus dentes e por isso experimento em tudo. Que o diga a minha dona que se farta de levar mordidinhas amistosas e outras menos, e mesmo arranhadelas que por acaso acontecem quando ela menos espera. Assim por detrás, quando vejo as mãos dela penduradas, vou a correr e zás. Mordidela. São mesmo uma tentação e eu mordo para ver ao que sabe e como ela reage, que é o que me diverte mais.
Mas voltando ao assunto principal, agora que tenho uma casa própria onde durmo bastante em cima de uma almofadona especial, que a minha dona traz para fora durante o dia, para eu descansar, roo um bocadinho aqui e ali, mas do que gosto mesmo é de me deitar em cima dela.
De resto como o tempo ainda está frio, não há assim muito para me ocupar durante o dia. Sempre que há um pouco de sol aí vou eu para cima da relva a espraiar-me no quentinho, até porque os meus donos têm um jardim jeitoso para fazer xixis e cócós. Eles limpam tudo, portanto posso continuar a fazer para que estejam sempre muito, mas mesmo muito ocupados comigo. Também brincam e correm e eu, que estou sempre a crescer, aprendo muitas coisas. Só não gosto é das horas que passo a olhar para dentro de casa, a ver se me deixam entrar. Mas um dia hei-de conseguir!


quarta-feira, 30 de março de 2016

NO ALENTEJO

Depois de me habituar a esta nova vida, passei por uma das experiências mais excitantes que pode haver. Fui para o Alentejo num fim de semana, viajei no banco de trás do carro e portei-me mesmo bem. Os meus donos protegeram o assento com um plástico e por cima um cobertor, mas nem seria preciso tanto cuidado porque eu aprendi logo ao nascer a ser muito limpinho: não faço xixi em qualquer sítio, nem cócó por dá cá aquela palha. E limpo muito bem as patinhas quando me molho, eles até dizem que mais pareço um gato. De qualquer maneira, não quero que se queixem de mim por falta de asseio.
 
Já dormir no Alentejo foi uma pequena aventura, porque como não havia casa própria e não podia dormir no exterior, armaram-me uma tenda numa casa de banho. Durante o dia dormi muito, assim como me veem aqui ao lado. À noite também, mas se não fosse terem coberto o chão com papel de jornal, de manhã tinha sido uma grande trabalheira para limpar aquilo tudo. Mas ainda assim, não chorei nem fiz barulho, na verdade começo a perceber que sou um garoto bem comportado, já nasci bem educado, quem diria?
Antes de ir dormir fiquei pela primeira vez dentro de uma casa. E aí é que foi um sarilho, porque lá na sala onde me puseram estavam também os meus donos que me prenderam à maçaneta de uma porta, não fosse eu dar cabo daquilo tudo com os meus dentes poderosos que me permitem deixar um tapete feito em fanicos num segundo.
 
Ora eu não gosto que me prendam e fiquem a olhar para mim, que era o que eles faziam quando não viam a televisão. Aquilo irritou-me e ladrei e gani que me fartei. Por que é que não podiam soltar-me para eu dar um giro e descobrir aquele sítio novo?
 
Mas não foi só isto. Durante o dia fartei-me de passear pelo jardim, rocei-me na relva alta (adoro!) e comi muita erva e mais coisas (de má memória e de que não posso agora aqui falar. Talvez mais tarde me venha a coragem para contar o que se passou...)
 
Passado o fim de semana voltámos à nossa casa primeira, eu à minha casota debaixo do tanque e eles lá dentro. Mas dou-me bem com a solução, pelo menos os meus donos pensam que sim porque não choro nem faço barulho. Durmo quentinho e tenho muitos mimos deles, que de vez em quando vão passear comigo pelo jardim. Aí dou cabo de tudo, relva, plantas, tudo o que me apareça à frente já se sabe. Ou se não, para que serviriam os meus dentes?

sábado, 26 de março de 2016

AINDA SOU NOVO, MINHA GENTE!

Só porque já dei um ar da minha gracinha quando era bébé, o pessoal acha que tenho que vir aqui todos os dias fazer o report do que se passa! Ora só agora é que aprendi a ladrar decentemente, quanto mais a escrever. Bom, mas já que insistem, hoje conto o que se passou a seguir à minha adoção por uma família não canina.
 
Como contei antes, estava cheio de fome e medo do que me pudesse acontecer. Dei uma volta pelo jardim, encontrei grades num portão que dá para a rua e vai daí pensei: "porque não ir pesquisar para ver se encontro alguém por aqueles lados?" E fui. No passeio vinha um senhor com 3 animais da minha espécie, todos bem gordinhos e seguros pela mão do mesmo.
Juntei-me a eles, mas a reação foi desanimadora: o dono deles pegou em mim e começou a chamar em voz alta "ó vizinha, venha cá que o seu cãozinho vai morrer atropelado". É claro que não apareceu ninguém, porque nessa altura eu ainda não tinha donos. Então ele voltou a pôr-me dentro do jardim um pouco mais longe do portão para ver se eu não ia novamente naquele sentido, porque se fosse, pequeno como era e com o trânsito que por ali há, era uma vez um Othelo!
 
Sobrevivi e encontrei os meus donos como vos contei antes. Mas a fome era já muita e eles não tinham daquela comidinha que é suposto darem aos cachorrinhos da minha idade. Que fazer? Talvez ele goste de leitinho e vai daí deram-me leite magro que é do que a casa gasta. E eu bebi, que remédio, estava com fome e sede. Então e depois, onde é que ele fica? Ainda hesitaram uns bons dias até decidirem que ficavam comigo, e durante esse tempo fiz os possíveis por me portar bem, mas já se sabe, só com pouco mais de um mês não se podia esperar muito nesse capítulo!
 
Fizeram-me uma casinha debaixo de um tanque de lavar roupa, bem fechado à volta e com um almofadinha do Benfica lá dentro. Gostei, dei-me logo bem e só queria lá estar dentro no quentinho ou cá fora na brincadeira.
 
Entretanto foram comprar comida a sério e enchi a barriguinha. Não fiz mais nada durante bastante tempo, dormi, comi e brinquei. Ainda hoje é o que mais gosto de fazer, então se for brincar com os meus donos, estou no céu...
 
De noite portei-me maravilhosamente bem, parecia que tinha vivido com eles desde que nasci. Dormi horas sem fim e nunca chorei, apesar de ficar sempre na tal casota improvisada. Finalmente decidiram-se: iam ficar comigo. Fui adotado. Iupiiii! Há vida melhor?




 

quinta-feira, 24 de março de 2016

MY NAME IS...

OTHELO
Agora que já sei escrever e porque tenho muito para contar nestes quatro meses de idade que já cá cantam, tomei esta decisão extrema: blogar para além de ladrar quando me deixarem.
 
A minha dona diz que tem mais que fazer do que aturar-me estes devaneios, como por exemplo preparar-me a caminha todas as noites, limpar os meus xixis e etc, comida e compras próprias para o meu palato fino, enfim, coisas que começaram a surgir na vida dela quando eu cheguei.
E como cheguei! Tudo não posso contar, só uma parte que é daquela que me lembro melhor. Estava eu muito quentinho junto da minha família canina quando numa segunda feira pela manhã bem cedo me levam do ninho materno para um quintal desconhecido. Foi mesmo assim! Ainda meio a dormir e por cima do muro, tomem, lá vai mais um da ninhada. Aos outros meus manos deve ter acontecido o mesmo. Vai daí vejo umas plantas enormes, umas coisas que nem sei o que seriam, uns contentores que hoje sei que são de reciclagem. Dentro do tal jardim onde fui deixado, sozinho e sem mais nem menos andei durante muito tempo às voltas e a choramingar, com fome e porque não dizer, com algum receio do futuro.
Fartei-me de chorar toda a manhã e não é que ninguém me vinha acudir, dar-me uma comidinha, água ou fosse o que fosse! Nem que só houvesse mimos eu já ficava contente. Mas não, foi assim de uma hora para a outra, aguenta-te até te encontrarem. O que demorou um par de horas a acontecer. Lá para a hora de almoço dos humanos, que a minha já tinha passado há muito tempo, apareceu uma coisa esquisita a entrar no tal jardim. Afinal era o carro do meu futuro dono, na altura eu ainda não sabia nada disto e fartei-me de tremer e fazer xixi até que eles me vissem. Ele, o meu dono e ela, a dona do meu coração. Só agora é que eu sei disto porque na altura o meu coraçãozinho parecia querer saltar pela boca com o medo que sentia.

Diz ela: Olha um gato no meio dos contentores! E logo a seguir. Não é um gato, está a abanar o rabo! É um puppie!!! Era mesmo eu e eles tinham-me encontrado. Que feliz encontro, nunca mais me senti sozinho e tenho que confessar que já nem me lembro da cara da minha outra dona, ou seja, da dona da minha outra família, canina. Esta família que eu arranjei agora como aqui vos conto é fixe, acho que vou ficar por cá uns tempos...