terça-feira, 23 de novembro de 2021

EU, A COMER CARNE CRUA?????!!!

É verdade! como carne crua. Umas vezes é frango, outras peru, ou ainda coelho e vaca. Tudo picadinho, juntamente com alguns ossos dos respetivos animais (80%), orgãos dos mesmos (10%) e alguns vegetais misturados (10%), tipo salsa, cenoura, espinafre.
Porquê? Porque desde miúdo foi detetada uma doença autoimune (SRMA - Steroid Responsive Meningitis-Arteritis), logo havia que reforçar o meu sistema e os meus donos, que estudam tudinho para que eu seja mais são e feliz, resolveram experimentar aquilo que em princípio é mais saudável para mim, ou seja, o que os meus ancestrais comeriam originalmente quando andavam soltos na natureza: ou seja, todos os animais que conseguissem caçar. Nada de rações! Não é que eu não goste delas, comer todo o tipo de coisas é comigo. Mas o natural é sempre melhor, dizem eles...
É claro que isso era no tempo em que os cães ainda não eram ajudantes dos humanos e mais tarde se tornaram animais de estimação, dos quais eu sou um belo exemplo: como, durmo e passeio, sempre que posso e não faço mais nada!
Não é bem assim, eles também são os humanos da minha estimação. Não suporto muito bem quando um deles vai passear e me deixa em casa, mesmo se acompanhado. Que andará ele a fazer sozinho lá fora? E se lhe acontece alguma coisa e eu não estou por perto? E então se forem os dois, é um sarilho, tento manter-me calmo, mas só descanso quando voltam para casa.
Eles bem querem deixar-me entretido com o KONG cheio de coisas boas, mas o problema é que tenho saudades deles, dizem que é um síndrome de ansiedade. Qualquer dia levam-me ao psiquiatra, que estes humanos quando gostam de um animal de estimação são capazes de tudo!
Oxalá se esqueçam disso e não saiam de casa tantas vezes. Também podem levar-me sempre com eles, porque se há quem se porte bem na rua, esse sou eu. Educado, não ladro aos outros, deito-me junto dos pés deles quando é necessário e cumprimento todos os amigos dos meus donos com umas boas marradinhas. 
Sou o Othelo, o que é que hei-de fazer? AH! E a verdade é que nunca mais tive nenhum problema de saúde grave, porque o meu sistema de imunidade e o meu estomago apreciam bastante este tipo de comida. Aqui vai uma amostra do que é e em que consiste, pode ser que alguém queira saber mais sobre a comida não ração.


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

SÓZINHO EM CASA...

Há tanto tempo que não dou notícias! A minha vida passou a ser simples como um rio, melhor, como uma lagoa tranquila. Como, durmo e passeio!

Tenho um dono que me leva três vezes ao dia à rua a passear e ver os amigos. Tenho uma dona que se desmancha em mimos quando fala comigo, até faz impressão como não se derrete. Gostam muito de mim, e eu também pago na mesma moeda. Já não consigo viver sem eles, o que em si não é lá muito dignificante, tendo em conta que sou um cão adulto e mesmo assim fico triste quando eles saem de casa os dois e me deixam sozinho.

Quando isso acontece ninguém na vizinhança me ouve ganir, chorar ou ladrar, mas isso é porque eles me deixam entretido com uma bola cheia de coisas boas, snacks, bolachinhas, iogurte congelado, pasta de salmão, eu sei lá. Aquilo dura umas duas ou três horas a esvaziar e eu todo entretido, nem dou pela falta deles. 

Mas gosto muito quando estão de volta e por vezes até brincam comigo ao puxa-puxa, atiram a bola para eu ir buscar, ou fazem-me festas. Sou mesmo um cão com sorte, mas eles ainda têm mais, porque onde eu estou, nenhum deles se sente só... 

 


sexta-feira, 28 de maio de 2021

JÁ POSSO DORMIR DENTRO DE CASA...

Com a minha doença os meus donos passaram-me para dentro de casa, mais propriamente para uma almofadinha na cozinha, com algumas restrições quanto a deambular por ali dentro. A porta da cozinha para o resto da casa permanece fechada o tempo todo, mas a do jardim fica aberta e eu tenho sempre muita liberdade para andar por onde quero, menos pelos quartos e salas.

Na verdade eles têm tapetes por todo o lado e eu ainda não dou garantias de poder circular sem percalços ou acidentes involuntários. Também ainda gosto muito de roer com os dentes que tenho desde a nascença, por isso eles não me permitem grandes liberdades. Mas já é um progresso em relação a viver fora de casa numa casota! Eles aliás ainda hoje se arrependem de não me ter deixado entrar desde pequenino, a intenção era boa e informaram-se muito sobre se isso não seria cruel para mim, mas como me vigiavam de perto e eu parecia feliz, foram mantendo esse status quo até que fiquei muito, mas muito doente... 

Se fosse hoje nunca me teriam deixado de fora até aos 4 meses, e recomendam a todos os que nos leem que o não façam, porque apesar dos muitos cuidados com o meu conforto lá fora, nada é igual a deixarem-me dormir sob um teto quentinho e humano dentro de casa...

Mas como durante a doença não podia ficar fora de casa, na minha casota, a coisa foi-se resolvendo por si só. Assim que melhorei, continuei a viver dentro de casa durante a noite e durante o dia passava bons bocados no jardim, onde brincava sozinho ou com eles.

Entretanto aprendi a não roer nada, só uma vez atirei com uma embalagem de esparguete ao chão e diverti-me a roer um bocado daquilo, nada mais. Fiquei de castigo do lado de fora da porta da cozinha durante um bom bocado a olhar para dentro, muito arrependido. 

Logo que os meus dentes de leite começaram a cair deixei de ter tanta vontade de morder em quase tudo que girasse à minha volta ou ficasse perto da minha boca. É uma questão de aprendizagem, dizem os meus donos. Para me compensar deram-me brinquedos próprios para roer e ainda hoje que sou um jovem adulto cheio de juízo, aprecio umas boas roidelas nesses brinquedos, de vez em quando até "despacho" um deles para o caixote do lixo...

Contudo, há coisas que ainda não me são permitidas neste viver dentro de casa, mas deixo esse relatório para uma próxima publicação. 

Por agora só quero salientar que já não estou doente, durmo dentro de casa, ainda ando a tomar cortisona para não sofrer recaídas que nesta doença (meningite) são frequentes até aos dois anos de idade, por isso fico com muita sede e bebo muita água, e como consequência faço muito xixi. Mas só no jardim e na rua, quando me levam a passear. Em casa NUNCA!!!


segunda-feira, 17 de maio de 2021

SRMA (Meningite não infeciosa) e como estive tão doente!

Pouco depois do meu último post, tinha eu uns cinco meses de vida, num belo domingo em que estive a ajudar os meus donos a "arranjar o jardim" levando troncos de um lado para o outro, à noite comecei a vomitar e a ter dores de barriga. Fiquei sem fome e só me apetecia ficar quietinho, sem me mexer e sem que me mexessem. 

Os meus donos pensavam que eu estava com uma gastroenterite ou qualquer coisa desse género porque também tinha diarreia. Deram-me galinha cozida com arroz branco, tal como os humanos fazem com as suas crianças quando ficam doentes da barriga.

Passou-se um, dois, três dias e eu estava cada vez pior. Nessa altura decidiram levar-me ao médico na Associação Zoológica de Portugal (AZP) onde fui várias vezes, sem que se encontrasse uma razão para o meu mal estar. E eu cada vez pior, até que fui internado já em desespero de causa dos meus donos que não sabiam o que fazer comigo. A minha dona acordava de noite para ver como eu estava e de cada vez me encontrava pior...

É preciso dizer que entretanto nesta fase de desespero entrei finalmente em casa como eu tanto queria, mas tão mal eu me sentia que não passava do cantinho onde me colocaram e o resto da casa não me interessava para nada. 

O que é que eu sentia? Uma enorme dor de cabeça, como se tivesse o mundo inteiro em cima de mim. Não conseguia comer nem beber, porque o meu corpo estava hirto, todo encolhido e nem conseguia baixar a cabeça para o meu prato, quanto mais engolir. Tinha febre alta e quando me apalpavam a coluna a meio das costas, sentia dor e gemia.

Decidiram todos que devia ficar internado no Hospital Veterinário da AZP para poder ser alimentado por via intravenosa e para poder ser melhor observado. Entretanto os vários diagnósticos dos médicos passavam por pancreatite, algum alimento envenenado, tudo menos o que na verdade se veio a descobrir mais tarde. E entretanto o meu sofrimento era grande!

Num desses dias de internamento na AZP um dos veterinários reparou que eu abanava involuntariamente uma das minhas patas da frente sem qualquer razão aparente e desde logo percebeu que a doença que me acometia deveria ter consequências neuromusculares e não gastrointestinais, e portanto a causa seria de natureza neurológica.

Nesse dia os meus donos receberam um telefonema que os assustou imenso: o que eu tinha era uma meningite não infeciosa (senão já teria morrido!) que deveria ser responsiva a medicamentos esteroides, em inglês conhecida como Steroid Responsive Meningitis-Arteritis (SRMA). 

Na verdade a partir daí tudo mudou: comecei a tomar medicamentos com base em cortisona e 12 horas depois já era outro cãozinho. Os meus donos visitavam-me todos os dias, e a partir dessa descoberta todos os dias viam que eu estava a melhorar. Mas podia ter morrido, foi uma sorte!

O Othelo ainda com a cabeça raspada no local onde fez a punção lombar

E porquê? Porque a origem da doença é autoimune, os sintomas são muito semelhantes a outras causas e nem todos os veterinários detetam logo que o que se passa tem origem em fatores genéticos. E pode ser fatal!

Estive dois anos em tratamento com corticosteróides, que como se sabe têm efeitos secundários muito desagradáveis para todo o ser vivo. Mas curou-me da doença.

Nesses dois anos fui "desmamado" dos corticosteróides, porque não se pode parar de um momento para o outro com esses tratamentos, as doses têm que ser gradualmente reduzidas. Mas tive de voltar ao princípio por duas vezes, porque tive recidivas. 

Duma dessas vezes fiz uma punção à medula espinal para confirmar se havia infeção, o que felizmente não se confirmou, mas esta doença não é brincadeira nenhuma...

Como os meus donos já conheciam os sintomas, levavam-me imediatamente ao médico que me dava um fortíssimo analgésico intramuscular e medicamentos para a fase seguinte, ou seja, mais cortisona. Entretanto foram-nos dizendo que talvez por volta dos meus dois anos de idade eu passasse a ter um sistema mais desenvolvido do ponto de vista imunológico, e a conseguir resistir ao ataque que as minhas próprias células faziam à minha meninge.

O que é que os meus donos fizeram? Estudaram o assunto a fundo: como não encontraram quase nada escrito em língua portuguesa, googlaram em inglês e aí sim, ficaram a saber o sério que era ter um cão com SRMA. E tomaram uma decisão, fazer tudo o que tinham estudado para me curar do meu mal.

E assim foi. Desde logo decidiram alterar a minha alimentação: em vez de ração passaram a dar-me comida crua, mas não é qualquer comida. É comida crua biologicamente adequada a animais de quatro patas, que é o meu caso. O acrónimo em inglês é BARF (Biological Adequate Raw Food). Um destes dias digo-vos em que consiste e como é deliciosa...

E foi assim que me curei da SRMA! Nunca mais tive nada e vou fazer cinco aninhos muito em breve. Se mais alguém tiver problemas desta natureza com o seu animal de estimação, não se esqueçam de falar ao médico nesta doença. É terrível, faz doer imenso, e pode levar à morte se não for tratada a tempo.

Os sintomas são: corpo tenso, pescoço hirto e doloroso, sem se conseguir mexer, febre alta, apatia e diarreia. Vão logo ao Hospital e perguntem se o vosso cão poderá estar a sofrer de uma meningite. Pode ser que não seja, mas se for um diagnóstico cedo evita muito sofrimento.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

NIKI LADRA

Na verdade estes meus novos donos têm umas ideias um pouco estranhas. Logo aos 4 meses de idade, ainda eles só me tinham adotado há dois, não é que decidiram ensinar-me a portar-me como os humanos? Se não vejamos: inscreveram-me numa escola que tem classes para cães de todas as idades e feitios. Querem que eu aprenda a brincar com os outros canídeos e que respeite os outros humanos quando me levam a passear na rua ou mesmo quando têm visitas em casa.

Como eu sou jovem e só quero é brincar, às vezes dou umas mordidelazitas das quais em geral ninguém gosta nada, exceto eu! Também já percebi que costumo roer o que não devo, mas dá-me um jeitão porque ainda tenho dentes de criança e eles têm de cair todos para ficar com dentes de adulto, que esses sim, morderão a valer.
Por isso querem levar-me à tal escola. Para aprender a não morder em ninguém, a não lutar com os outros cães durante os passeios na rua. E também, se possível, a poupar os móveis lá de casa. Isto quando me deixarem entrar, que por enquanto continuo a dormir na casota do jardim e a roer apenas a minha almofada.

Vai daí tenho 3 aulas por semana numa escolinha que se chama Niki Ladra. E até estou a gostar, como podem ver chego sempre cedo e não descanso enquanto não abrem a porta. Então, quando é que isto começa?
 
 
 
 

domingo, 27 de novembro de 2016

APARTAMENTO NOVO

Vivó, compraram-me uma casa a sério.

Não é luxo nenhum, mas para quem dormia debaixo de um tanque de cimento é uma promoção e tanto. Continuo no mesmo sítio, isto é, tiraram-me o tanque e colocaram a nova caseta, ou casota ou lá o que é no mesmo lugar. Tem um tapete de borracha no fundo e uma almofada para que eu possa dormir fofinho. E não é que durmo mesmo, toda a noite! O que os meus donos não sabiam é que um cachorrinho peludo como eu não tem frio mesmo quando dorme fora, pelo menos em cima de uma almofada como a minha e resguardado pelos muros em volta. Estou todo satisfeito e depois de dormir toda a noite acordo de manhã estremunhado e cheio de vontade para ir para a brincadeira. Também aproveito para roer um bocado do tapete e da almofada para treinar as minhas dentuças que são pequeninas mas estragam que se farta. Vamos ver no que isto dá! Às tantas zangam-se comigo, mas eu até gosto...

Ainda ando a ver para que servem os meus dentes e por isso experimento em tudo. Que o diga a minha dona que se farta de levar mordidinhas amistosas e outras menos, e mesmo arranhadelas que por acaso acontecem quando ela menos espera. Assim por detrás, quando vejo as mãos dela penduradas, vou a correr e zás. Mordidela. São mesmo uma tentação e eu mordo para ver ao que sabe e como ela reage, que é o que me diverte mais.
Mas voltando ao assunto principal, agora que tenho uma casa própria onde durmo bastante em cima de uma almofadona especial, que a minha dona traz para fora durante o dia, para eu descansar, roo um bocadinho aqui e ali, mas do que gosto mesmo é de me deitar em cima dela.
De resto como o tempo ainda está frio, não há assim muito para me ocupar durante o dia. Sempre que há um pouco de sol aí vou eu para cima da relva a espraiar-me no quentinho, até porque os meus donos têm um jardim jeitoso para fazer xixis e cócós. Eles limpam tudo, portanto posso continuar a fazer para que estejam sempre muito, mas mesmo muito ocupados comigo. Também brincam e correm e eu, que estou sempre a crescer, aprendo muitas coisas. Só não gosto é das horas que passo a olhar para dentro de casa, a ver se me deixam entrar. Mas um dia hei-de conseguir!


quarta-feira, 30 de março de 2016

NO ALENTEJO

Depois de me habituar a esta nova vida, passei por uma das experiências mais excitantes que pode haver. Fui para o Alentejo num fim de semana, viajei no banco de trás do carro e portei-me mesmo bem. Os meus donos protegeram o assento com um plástico e por cima um cobertor, mas nem seria preciso tanto cuidado porque eu aprendi logo ao nascer a ser muito limpinho: não faço xixi em qualquer sítio, nem cócó por dá cá aquela palha. E limpo muito bem as patinhas quando me molho, eles até dizem que mais pareço um gato. De qualquer maneira, não quero que se queixem de mim por falta de asseio.
 
Já dormir no Alentejo foi uma pequena aventura, porque como não havia casa própria e não podia dormir no exterior, armaram-me uma tenda numa casa de banho. Durante o dia dormi muito, assim como me veem aqui ao lado. À noite também, mas se não fosse terem coberto o chão com papel de jornal, de manhã tinha sido uma grande trabalheira para limpar aquilo tudo. Mas ainda assim, não chorei nem fiz barulho, na verdade começo a perceber que sou um garoto bem comportado, já nasci bem educado, quem diria?
Antes de ir dormir fiquei pela primeira vez dentro de uma casa. E aí é que foi um sarilho, porque lá na sala onde me puseram estavam também os meus donos que me prenderam à maçaneta de uma porta, não fosse eu dar cabo daquilo tudo com os meus dentes poderosos que me permitem deixar um tapete feito em fanicos num segundo.
 
Ora eu não gosto que me prendam e fiquem a olhar para mim, que era o que eles faziam quando não viam a televisão. Aquilo irritou-me e ladrei e gani que me fartei. Por que é que não podiam soltar-me para eu dar um giro e descobrir aquele sítio novo?
 
Mas não foi só isto. Durante o dia fartei-me de passear pelo jardim, rocei-me na relva alta (adoro!) e comi muita erva e mais coisas (de má memória e de que não posso agora aqui falar. Talvez mais tarde me venha a coragem para contar o que se passou...)
 
Passado o fim de semana voltámos à nossa casa primeira, eu à minha casota debaixo do tanque e eles lá dentro. Mas dou-me bem com a solução, pelo menos os meus donos pensam que sim porque não choro nem faço barulho. Durmo quentinho e tenho muitos mimos deles, que de vez em quando vão passear comigo pelo jardim. Aí dou cabo de tudo, relva, plantas, tudo o que me apareça à frente já se sabe. Ou se não, para que serviriam os meus dentes?

sábado, 26 de março de 2016

AINDA SOU NOVO, MINHA GENTE!

Só porque já dei um ar da minha gracinha quando era bébé, o pessoal acha que tenho que vir aqui todos os dias fazer o report do que se passa! Ora só agora é que aprendi a ladrar decentemente, quanto mais a escrever. Bom, mas já que insistem, hoje conto o que se passou a seguir à minha adoção por uma família não canina.
 
Como contei antes, estava cheio de fome e medo do que me pudesse acontecer. Dei uma volta pelo jardim, encontrei grades num portão que dá para a rua e vai daí pensei: "porque não ir pesquisar para ver se encontro alguém por aqueles lados?" E fui. No passeio vinha um senhor com 3 animais da minha espécie, todos bem gordinhos e seguros pela mão do mesmo.
Juntei-me a eles, mas a reação foi desanimadora: o dono deles pegou em mim e começou a chamar em voz alta "ó vizinha, venha cá que o seu cãozinho vai morrer atropelado". É claro que não apareceu ninguém, porque nessa altura eu ainda não tinha donos. Então ele voltou a pôr-me dentro do jardim um pouco mais longe do portão para ver se eu não ia novamente naquele sentido, porque se fosse, pequeno como era e com o trânsito que por ali há, era uma vez um Othelo!
 
Sobrevivi e encontrei os meus donos como vos contei antes. Mas a fome era já muita e eles não tinham daquela comidinha que é suposto darem aos cachorrinhos da minha idade. Que fazer? Talvez ele goste de leitinho e vai daí deram-me leite magro que é do que a casa gasta. E eu bebi, que remédio, estava com fome e sede. Então e depois, onde é que ele fica? Ainda hesitaram uns bons dias até decidirem que ficavam comigo, e durante esse tempo fiz os possíveis por me portar bem, mas já se sabe, só com pouco mais de um mês não se podia esperar muito nesse capítulo!
 
Fizeram-me uma casinha debaixo de um tanque de lavar roupa, bem fechado à volta e com um almofadinha do Benfica lá dentro. Gostei, dei-me logo bem e só queria lá estar dentro no quentinho ou cá fora na brincadeira.
 
Entretanto foram comprar comida a sério e enchi a barriguinha. Não fiz mais nada durante bastante tempo, dormi, comi e brinquei. Ainda hoje é o que mais gosto de fazer, então se for brincar com os meus donos, estou no céu...
 
De noite portei-me maravilhosamente bem, parecia que tinha vivido com eles desde que nasci. Dormi horas sem fim e nunca chorei, apesar de ficar sempre na tal casota improvisada. Finalmente decidiram-se: iam ficar comigo. Fui adotado. Iupiiii! Há vida melhor?




 

quinta-feira, 24 de março de 2016

MY NAME IS...

OTHELO
Agora que já sei escrever e porque tenho muito para contar nestes quatro meses de idade que já cá cantam, tomei esta decisão extrema: blogar para além de ladrar quando me deixarem.
 
A minha dona diz que tem mais que fazer do que aturar-me estes devaneios, como por exemplo preparar-me a caminha todas as noites, limpar os meus xixis e etc, comida e compras próprias para o meu palato fino, enfim, coisas que começaram a surgir na vida dela quando eu cheguei.
E como cheguei! Tudo não posso contar, só uma parte que é daquela que me lembro melhor. Estava eu muito quentinho junto da minha família canina quando numa segunda feira pela manhã bem cedo me levam do ninho materno para um quintal desconhecido. Foi mesmo assim! Ainda meio a dormir e por cima do muro, tomem, lá vai mais um da ninhada. Aos outros meus manos deve ter acontecido o mesmo. Vai daí vejo umas plantas enormes, umas coisas que nem sei o que seriam, uns contentores que hoje sei que são de reciclagem. Dentro do tal jardim onde fui deixado, sozinho e sem mais nem menos andei durante muito tempo às voltas e a choramingar, com fome e porque não dizer, com algum receio do futuro.
Fartei-me de chorar toda a manhã e não é que ninguém me vinha acudir, dar-me uma comidinha, água ou fosse o que fosse! Nem que só houvesse mimos eu já ficava contente. Mas não, foi assim de uma hora para a outra, aguenta-te até te encontrarem. O que demorou um par de horas a acontecer. Lá para a hora de almoço dos humanos, que a minha já tinha passado há muito tempo, apareceu uma coisa esquisita a entrar no tal jardim. Afinal era o carro do meu futuro dono, na altura eu ainda não sabia nada disto e fartei-me de tremer e fazer xixi até que eles me vissem. Ele, o meu dono e ela, a dona do meu coração. Só agora é que eu sei disto porque na altura o meu coraçãozinho parecia querer saltar pela boca com o medo que sentia.

Diz ela: Olha um gato no meio dos contentores! E logo a seguir. Não é um gato, está a abanar o rabo! É um puppie!!! Era mesmo eu e eles tinham-me encontrado. Que feliz encontro, nunca mais me senti sozinho e tenho que confessar que já nem me lembro da cara da minha outra dona, ou seja, da dona da minha outra família, canina. Esta família que eu arranjei agora como aqui vos conto é fixe, acho que vou ficar por cá uns tempos...