quarta-feira, 30 de março de 2016

NO ALENTEJO

Depois de me habituar a esta nova vida, passei por uma das experiências mais excitantes que pode haver. Fui para o Alentejo num fim de semana, viajei no banco de trás do carro e portei-me mesmo bem. Os meus donos protegeram o assento com um plástico e por cima um cobertor, mas nem seria preciso tanto cuidado porque eu aprendi logo ao nascer a ser muito limpinho: não faço xixi em qualquer sítio, nem cócó por dá cá aquela palha. E limpo muito bem as patinhas quando me molho, eles até dizem que mais pareço um gato. De qualquer maneira, não quero que se queixem de mim por falta de asseio.
 
Já dormir no Alentejo foi uma pequena aventura, porque como não havia casa própria e não podia dormir no exterior, armaram-me uma tenda numa casa de banho. Durante o dia dormi muito, assim como me veem aqui ao lado. À noite também, mas se não fosse terem coberto o chão com papel de jornal, de manhã tinha sido uma grande trabalheira para limpar aquilo tudo. Mas ainda assim, não chorei nem fiz barulho, na verdade começo a perceber que sou um garoto bem comportado, já nasci bem educado, quem diria?
Antes de ir dormir fiquei pela primeira vez dentro de uma casa. E aí é que foi um sarilho, porque lá na sala onde me puseram estavam também os meus donos que me prenderam à maçaneta de uma porta, não fosse eu dar cabo daquilo tudo com os meus dentes poderosos que me permitem deixar um tapete feito em fanicos num segundo.
 
Ora eu não gosto que me prendam e fiquem a olhar para mim, que era o que eles faziam quando não viam a televisão. Aquilo irritou-me e ladrei e gani que me fartei. Por que é que não podiam soltar-me para eu dar um giro e descobrir aquele sítio novo?
 
Mas não foi só isto. Durante o dia fartei-me de passear pelo jardim, rocei-me na relva alta (adoro!) e comi muita erva e mais coisas (de má memória e de que não posso agora aqui falar. Talvez mais tarde me venha a coragem para contar o que se passou...)
 
Passado o fim de semana voltámos à nossa casa primeira, eu à minha casota debaixo do tanque e eles lá dentro. Mas dou-me bem com a solução, pelo menos os meus donos pensam que sim porque não choro nem faço barulho. Durmo quentinho e tenho muitos mimos deles, que de vez em quando vão passear comigo pelo jardim. Aí dou cabo de tudo, relva, plantas, tudo o que me apareça à frente já se sabe. Ou se não, para que serviriam os meus dentes?

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